“AND JUST LIKE THAT...": Um remake destruído pela cultura woke
A ausência da icônica Samantha Jones e as novas narrativas para as personagens já consagradas falharam na tentativa de reconquistar o público nostálgico de Sex and The City.
PorIvone Sousa
4/11/2025

Foto: Instagram / @sexandthecitytv.
Série conforto é aquele seriado que você coloca quando não tem nada em mente para assistir, não quer pensar muito e que te deixa com o coração quentinho por ser muito bom. É assim com Friends, The Office e, tenho uma queda especial, Sex and the City. Sempre indico para amigas pois trata de assuntos cotidianos e, às vezes, até desconfortáveis. Nos apresenta personagens tão bem construídos, e adoro dividir meu amor pela minha figura materna Samantha Jones, dona e proprietária da série, mas que insistem em colocar a sonsa e egocêntrica da Carrie Bradshaw como protagonista. Tudo isso ambientado na clássica e caótica Nova York, com muitos Cosmopolitan, Manolo Blahnik, Chanel e todo um universo de glamour.

A produção conta com seis temporadas, que duraram de 1998 a 2004, seguidas por mais dois filmes no currículo e um sucesso estrondoso (Foto: Instagram / @sexandthecitytv).
Depois de seis temporadas e dois filmes, brigas por questões salariais e estrelismos fizeram com que um terceiro filme nunca fosse lançado. Até que, em 2021, lançaram And Just Like That..., e a decepção já começou com a ausência da mamãe Samantha. Ela era a alma da série, mas como boa fã da franquia, resolvi dar uma chance e só tenho uma frase para resumir: Meu Deus... por quê?

Sem Samantha Jones (Kim Cattrall), remake de Sex and The City perde a alma da série. Na foto, o trio composto por Charlotte York (Kristin Davis), Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker) e Miranda Hobbes (Cynthia Nixon). Foto: Instagram / @justlikethatmax .
Antes de nos aprofundarmos no desespero, preciso explicar o que é a cultura woke.
A cultura woke é um movimento social e cultural que enfatiza a conscientização sobre questões de justiça social, como racismo, desigualdade de gênero, direitos LGBTQIA+, agro como vilão e outras formas de opressão e discriminação. O termo "woke" vem do inglês e significa "acordado" ou "desperto", indicando uma atitude de vigilância e consciência crítica em relação a basicamente tudo. Resumo mais ainda como "militância exagerada".
(Atenção, leitoras: a partir de agora contém spoilers)
Pois bem, tentaram de todas as formas possíveis introduzir essas pautas na série. Personagens como Che Diaz e Rock, assim como a transformação de personagens clássicos como Miranda e Charlotte, levaram muitos fãs a sentirem que And Just Like That... estava tentando adaptar-se excessivamente às normas da cultura woke. Ao invés de celebrar a nostalgia e a essência leve e provocativa de Sex and the City, a continuação foi percebida como uma série que buscava marcar pontos em termos de representatividade, sempre de maneira forçada e artificial.

And Just Like That…é uma tentativa forçada de adaptar Sex and the City à cultura woke, perdendo a leveza e a nostalgia da série original. Foto: Instagram / @justlikethatmax.
A decisão de transformar Miranda de uma advogada pragmática para alguém que redescobre sua sexualidade em seus 50 anos foi uma tentativa de "desconstruir" a personagem para se alinhar aos temas contemporâneos. O arco de Miranda, que envolve um caso extraconjugal com Che, parece uma tentativa desesperada de atualizar a personagem para os tempos modernos, ignorando anos de desenvolvimento de seu relacionamento com Steve, seu marido. Nem sou fã do Steve, mas ficou algo patético. Sem contar que, no episódio em que Samantha assume o namoro com Maria, ela foi a primeira a engolir a seco, e esse foi o diálogo entre as meninas:
— Como é isso? Você acorda um dia e vira lésbica? — indaga Carrie.
— Esqueci de contar que sou um hidrante — debocha Miranda.
Ela também comenta que já teve experiência com mulher e não gostou. Claro que as pessoas mudam de opinião, de atitude, de qualquer coisa, mas toda a construção da personagem foi pelo ralo. Diante do relacionamento com Che, Miranda torna-se submissa, desajeitada e fraca. Toda a autoconfiança muda drasticamente. Realmente forçaram demais.

Em And Just Like That…, Miranda assume um relacionamento extraconjugal com Che Diaz (Sara Ramírez) Foto: Instagram / @justlikethatmax.
E o que fizeram com a Charlotte? Em um esforço exagerado para se tornar "mais inclusiva" em seu círculo de amigos., em um episódio, ela se preocupa com o fato de não ter amigos negros (???). Ai, gente... Desculpa, mas todo esse enredo ficou chato e serviu justamente ao contrário do que se propôs.
Esses são só alguns exemplos diante do mundaréu de pautas que tentaram empurrar goela abaixo em poucos episódios.
QUEM LACRA, NÃO LUCRA
Algumas empresas que tentaram surfar nessa onda woke perceberam que “lacrar” nem sempre se traduz em lucro. Um caso clássico é o da John Deere, que resolveu bancar uma campanha toda inclusiva. Mas, a real é que o público deles, majoritariamente agricultores conservadores, não curtiu nem um pouco. Resultado? Sentiram no bolso que, às vezes, abraçar causas progressistas não ressoa com a base de consumidores tradicionais. Em julho deste ano, a gigante de maquinários e implementos agrícolas comunicou o fim do apoio às pautas identitárias.
As críticas a And Just Like That... também foram ferrenhas. Patrícia Kogut resumiu bem ao dizer que "a HBO fracassou no seu objetivo de acarinhar o público saudoso de Sex and the City. A nova trama sucateia a original e desrespeita as boas lembranças que ela deixou." Segundo a revista InStyle, existem alguns personagens que não retornarão à série, dentre eles Che Diaz (Sara Ramirez), o que explica muita coisa, não é mesmo? Eles tinham que fazer alguma coisa para tentar encantar o público fiel de SATC e perceberam que não seria através dessa mega inclusão.
TEMAS IMPORTANTES
Essa tentativa de modernizar a série, abordando uma ampla gama de questões sociais atuais, dividiu o público. Enquanto alguns apreciaram o esforço de trazer temas importantes para a discussão, outros sentiram que a série perdeu sua autenticidade e espontaneidade, transformando-se em uma plataforma para pregação de valores progressistas ao invés de contar uma história envolvente.
São causas imprtantes? Claro que sim. Mas até a abordagem precisa ser espontânea. Forçar lacração tira a leveza das coisas e transforma tudo em um grande Twitter, com uma problematização sem fim. Sex and the City é uma obra-prima do politicamente incorreto. Quer lacrar? Vai lá assistir And Just Like That... e deixa minha série conforto em paz.
Descansa, militante.
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