Comportamento

Nomofobia: o medo irracional de ficar sem celular e o impacto na vida escolar

Especialista alerta que transição após proibição do dispositivo nas escolas requer atenção

Por
Redação

4/7/2025

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A dependência de telas já é reconhecida como um transtorno comportamental (Foto: Freepik) 

Nos últimos anos, a tecnologia se tornou uma presença constante no cotidiano das pessoas, inclusive entre crianças e adolescentes. No entanto, esse avanço trouxe consigo um fenômeno preocupante: a nomofobia, ou o medo irracional de ficar sem celular ou aparelhos eletrônicos. A dependência excessiva dessas telas está gerando novos desafios comportamentais, emocionais e educacionais, que exigem atenção urgente.

Recentemente, foi proibido o uso de celulares em escolas no Brasil. Embora a medida tenha como objetivo promover maior interação social e foco nos estudos, especialistas alertam para os possíveis impactos emocionais dessa transição. 

Isso porque a dependência de telas já é reconhecida como um transtorno comportamental, explica o professor Wilson Candido Braga, especialista em transtornos mentais em crianças e adolescentes com livros publicados pela Paulinas. Essa condição não se limita aos adolescentes; ela começa cedo, muitas vezes em bebês que utilizam dispositivos eletrônicos como “chupetas digitais”.

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Exposição precoce aos dispositivos pode causar até problemas físicos (Foto: Adobe Stock)

“Por terem nascido na era tecnológica, as crianças não têm modelos alternativos de comportamento em casa. Elas observam os pais constantemente conectados a seus celulares, o que desperta nelas um interesse precoce por esses aparelhos”, explica Braga. 

Essa exposição precoce pode levar ao surgimento de problemas físicos, como lesões por esforço repetitivo (LER), antes associadas apenas a adultos. Hoje, é possível encontrar crianças com dedos e punhos travados devido ao uso excessivo de dispositivos touchscreen.

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Luz azul das telas ativa sensações de recompensa no cérebro (Foto: Adobe Stock) 

Além disso, há consequências neurológicas significativas. A luz azul emitida pelas telas ativa áreas do cérebro relacionadas ao prazer, proporcionando uma sensação imediata de recompensa. Esse mecanismo é semelhante ao de substâncias viciantes, levando à dependência comportamental. 

Quando privadas do acesso às telas, algumas pessoas podem experimentar sintomas de abstinência, como ansiedade, sudorese, taquicardia e até pânico – características típicas da nomofobia.

O impacto na escola

A proibição do uso de celulares nas escolas, embora bem-intencionada, pode gerar desconforto emocional em alunos que estão acostumados a depender desses dispositivos como forma de conforto e distração. “Vamos enfrentar situações em que adolescentes poderão apresentar crises de ansiedade ou surtos emocionais devido à ausência do celular”, adverte Braga. 

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Proibição repentina do celular pode criar sensação de abstinência em jovens (Foto: Adobe Stock) 

Para lidar com esse cenário, o especialista defende a necessidade de oferecer serviços de psicólogos nas instituições de ensino: “É fundamental que haja profissionais capacitados para trabalhar questões comportamentais e ajudar os alunos a lidar com a abstinência digital. Isso permitirá que eles desenvolvam habilidades sociais e estratégias saudáveis para lidar com o afastamento das telas”.

Um problema familiar e social

Outro ponto destacado pelo professor Braga é a responsabilidade das famílias nesse processo: “Se a escola proíbe o uso do celular, mas em casa os pais permitem que os filhos passem horas seguidas diante das telas, estamos criando um paradoxo. A mudança precisa ser conjunta”. Ele enfatiza que a dependência de telas está moldando uma nova geração de indivíduos imediatistas, ansiosos e até agressivos quando privados dessas ferramentas.

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Para lidar com a dependência em telas, famílias precisam explorar atividades fora delas (Foto: Adobe Stock)

A nomofobia reflete um problema mais amplo: a substituição de atividades diárias reais pela ilusão de conexão virtual. Adolescentes deixaram de interagir pessoalmente, preferindo trocas superficiais mediadas por aplicativos. Com a proibição dos celulares nas escolas, existe a oportunidade de resgatar formas mais genuínas de comunicação e aprendizado. No entanto, isso também exige preparação tanto dos educadores quanto das famílias.

Perspectivas futuras

O professor Braga prevê que, nos próximos anos, veremos um aumento dos casos de nomofobia e outros transtornos relacionados ao uso excessivo de tecnologia. “Estamos criando uma sociedade hostil à espera e intolerante à frustração. As pessoas querem tudo mastigado, rápido e fácil, sem espaço para investigação ou reflexão profunda.”

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Ferramentas devem ser usadas de forma responsável (Foto: Adobe Stock/IA)

Diante desse cenário, ele sugere que pais, educadores e formuladores de políticas públicas trabalhem juntos para encontrar soluções equilibradas. “Precisamos educar nossas crianças para usarem a tecnologia de forma consciente, sem que ela domine suas vidas. A escola tem um papel central nisso, mas a família é igualmente responsável”, conclui.

A nomofobia é um alerta para repensarmos nossa relação com a tecnologia. Enquanto buscamos aproveitar os benefícios dos avanços digitais, devemos estar atentos aos riscos que eles trazem para nossa saúde mental e social. O futuro depende de nossa capacidade de encontrar um equilíbrio sustentável entre o mundo virtual e o real.

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