Design & Arquitetura

Artesanato local e design contemporâneo: a força da identidade cultural nos interiores

Conheça designers que estão unindo artesanato local e autenticidade, valorizando a identidade cultural no design contemporâneo

Por
Ricardo Caminada

4/10/2025

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No Brasil, a Tidelli é um exemplo de fusão entre design contemporâneo e artesanato, com seus móveis externos feitos de cordas náuticas trançadas à mão (Foto: Coleção Painho - Divulgação / Tidelli)

No mundo do design, a busca por autenticidade nunca esteve tão em alta. Se antes a globalização parecia ditar um estilo padronizado e impessoal, hoje há um movimento crescente em direção ao resgate das raízes culturais e do feito à mão. Nesse contexto, o artesanato local vem ganhando força e conquistando espaço no design contemporâneo, não apenas como uma estética, mas como uma forma de valorização da identidade cultural – especialmente nos interiores.

O novo luxo: originalidade e história

Por muito tempo, luxo foi sinônimo de grandes marcas e materiais caros. Agora, exclusividade significa história, conexão e significado. É isso que o artesanato oferece: peças únicas, carregadas de tradição e produzidas por mãos habilidosas que preservam técnicas transmitidas ao longo de gerações.

Seja no mobiliário, na tapeçaria ou nos objetos decorativos, o design contemporâneo tem encontrado no trabalho artesanal uma forma de enriquecer os espaços com personalidade. Um exemplo disso é a valorização de tramas feitas em tear manual, cestarias indígenas e cerâmicas regionais em projetos de arquitetura e decoração. Esses elementos dialogam com um mundo moderno sem perder suas raízes.

O designer brasileiro Humberto Campana, um dos nomes por trás do icônico Estúdio Campana, reforça essa conexão entre design e artesanato. “Nossa inspiração sempre vem da cultura popular, da simplicidade e da criatividade que encontramos nas comunidades. O artesanato tem uma força única que transforma qualquer peça em uma obra viva”, afirmou Campana em uma entrevista. Aliás, o Estúdio Campana é conhecido por suas criações que utilizam materiais e técnicas artesanais brasileiras, como a poltrona Vermelha, feita com cordas entrelaçadas à mão.

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Poltrona Vermelha, dos irmãos Campana (Foto: Divulgação / Estúdio Campana)

A ponte entre tradição e inovação

O artesanato e o design contemporâneo não são opostos. Pelo contrário, juntos, eles criam um equilíbrio interessante entre tradição e inovação. Designers têm trabalhado lado a lado com artesãos para reinterpretar técnicas antigas de maneira moderna, adaptando padrões, formatos e materiais para novos usos e contextos.

A designer espanhola Patricia Urquiola também é uma referência quando o assunto é a fusão entre o artesanal e o contemporâneo. Em colaboração com artesãos do mundo inteiro, ela já desenvolveu peças que combinam tramas tradicionais com formas inovadoras. “Gosto de explorar o contraste entre o manual e o tecnológico. O toque humano traz uma qualidade emocional para os objetos, algo que não se pode replicar em produções industriais”, afirmou em uma de suas entrevistas.

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Poltrona Crinolina, de Patricia Urquiola (Foto: Divulgação / BEB Itália)

Outro nome que vem se destacando é Fernando Laposse, designer mexicano que trabalha com materiais naturais e técnicas artesanais para criar peças sustentáveis. Sua obra mais famosa, os Tamale Chairs, utiliza fibras de milho descartadas para produzir assentos únicos, valorizando a cultura e os recursos locais. “O design deve respeitar e fortalecer as comunidades. Precisamos criar um sistema onde o feito à mão seja valorizado como parte essencial do futuro do design”, destaca Laposse.

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Retrato do designer mexicano Fernando Laposse (Foto: Pepe Molina via Cultured Magazine)

Tidelli e o artesanato no design contemporâneo

No Brasil, um grande exemplo dessa fusão entre design contemporâneo e trabalho artesanal vem da marca Tidelli, conhecida por seus móveis de área externa feitos com cordas náuticas trançadas à mão. A empresa já colaborou com diversos designers para criar peças que unem inovação, conforto e identidade cultural.

Um dos destaques é a Coleção Painho, desenvolvida por Marcelo Rosembaum em parceria com o estúdio Fetiche Design. Inspirada pelos tradicionais tronos de umbanda e pela Bahia tropical, a coleção reúne a identidade da Tidelli, que trabalha produtos para área externa, sua tradição na produção industrial de peças metálicas precisas, com o trabalho artesanal da corda.

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Cadeiras Painho (Foto: Divulgação / Tidelli)

Sustentabilidade e economia criativa

A ascensão do artesanato no design também está alinhada com um desejo crescente por consumo mais consciente. Em vez de peças industrializadas em massa, o público tem buscado produtos feitos com técnicas sustentáveis, materiais naturais e processos éticos. Esse movimento fortalece não só a identidade cultural das comunidades artesãs, mas também a economia criativa, gerando renda e incentivando o desenvolvimento local.

Ao valorizar o artesanato, o design contemporâneo não apenas resgata saberes e fortalece identidades, mas também propõe um novo olhar para os interiores: um que une o melhor dos dois mundos – a sofisticação da simplicidade e a riqueza das histórias contadas por cada peça.

Seja em uma casa minimalista ou em um espaço mais rústico, a verdade é que trazer o feito à mão para dentro de casa é uma forma de conectar-se com o passado, viver o presente com mais significado e construir um futuro mais autêntico e sustentável.

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