Moda

New York Fashion Week: conheça as tendências para a próxima temporada

A colunista Luanna Mandelli comenta as novidades de uma das semanas de moda mais aguardadas do ano

Por
Luanna Mandelli

4/7/2025

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NYFW abre os palcos de tendências globais da moda (Foto: Hunter Adams, Reprodução) 

No calendário oficial da moda, quatro cidades se destacam como os grandes palcos das tendências globais — as famosas “Big Four”. Nova York dá início a essa jornada, preparando o terreno para Londres, Milão e Paris. Entre os dias 6 e 11 de fevereiro, a cidade se transformou no epicentro fashion com a aguardada New York Fashion Week (NYFW), onde estilistas consagrados e novos talentos se reuniram para apresentaram suas coleções, antecipando as principais tendências que logo estarão nas ruas e vitrines.

Com desfiles disputados e a atenção do mundo da moda voltada para Nova York, a NYFW define as tendências que irão marcar a próxima temporada. Para te manter atualizada sobre os destaques desse evento, selecionei os principais desfiles e estilistas que merecem nossa atenção.

Confira a seguir e aproveite uma espécie de imersão no mundo da moda

Dia 1 -  6 de fevereiro


Christopher John Rogers

Dois anos se passaram desde que Rogers pisou na passarela, e este foi, sem dúvida, o conceito mais inovador e refrescante apresentado no primeiro dia da NYFW. Enquanto muitas coleções parecem empenhadas em se encaixar dentro das tendências da indústria, esta coleção se destacou por sua autenticidade—uma verdadeira extensão do próprio designer.

“Aquilo, sim, foi um desfile de moda” foi a reação geral do público. A coleção trouxe uma explosão de cores vibrantes que ressaltaram a silhueta feminina, explorando franjas, padrões marcantes, formas inusitadas e linhas horizontais. Mas foi no tom de verde-limão que Rogers realmente brilhou, elevando a paleta cromática a um novo patamar de ousadia e identidade.

Fotos: Filippo Fior / Gorunway.com

Fotos: Filippo Fior / Gorunway.com

Fotos: Filippo Fior / Gorunway.com

Fotos: Filippo Fior / Gorunway.com

Fotos: Filippo Fior / Gorunway.com

Brandon Maxwell

Maxwell reafirmou a identidade da marca com um toque autêntico de Nova York, destacando a influência do workwear e a busca incessante pelo sucesso. A coleção apresenta peças clássicas de alfaiataria, mas com um toque inovador, seja na forma como são estilizadas ou na própria construção das roupas. Os padrões foram explorados de maneira ousada—às vezes com acerto, outras de forma pouco favorecedora.

O que realmente me intrigou, porém, foi o movimento crescente dentro da indústria em direção ao maximalismo. Adorei a maneira lúdica com que esse conceito foi introduzido dentro de uma estética tradicionalmente clássica e estruturada. Couro, xadrez, texturas e lã compõem a nova coleção de Maxwell.

Fotos: Monica Feudi/ Cortesia de Brandon Maxwell 

Fotos: Monica Feudi/ Cortesia de Brandon Maxwell 

Fotos: Monica Feudi/ Cortesia de Brandon Maxwell 

Fotos: Monica Feudi/ Cortesia de Brandon Maxwell 

Colina Strada 

No cenário mutável da moda, onde arte e ideologia se cruzam, Collina Strada, de Hillary Taymour, surge como um reflexo das tensões entre o liberalismo e o conservadorismo nos EUA. A designer descreveu a coleção como uma resposta ao ato de se esconder: “Mascarar ou esconder as lágrimas, esconder-se de alguma forma.” Como sempre, a moda responde às mudanças políticas com arte intensa e provocativa.

Um dos temas centrais é a pressão imposta às mulheres: presas em padrões impossíveis. As roupas traduzem essa tensão, distorcendo a silhueta de formas intencionais, mas muitas vezes desconfortáveis.

Porém, a execução falha. Apesar da proposta conceitual forte, as peças não vestiam bem, e o maximalismo exagerado prejudicou o impacto. O grande destaque da coleção foram os óculos alienígenas surreais, mas o resto da coleção se perdeu entre o excesso e a falta de usabilidade.

Esse é o dilema da moda política: ao tentar chocar, muitas vezes esquece que vestir bem também é essencial. Provocar é necessário, mas seduzir também faz parte da arte.

Fotos: Umberto Fratini / Gorunway.com

Fotos: Umberto Fratini / Gorunway.com

Fotos: Umberto Fratini / Gorunway.com

Fotos: Umberto Fratini / Gorunway.com

Fotos: Umberto Fratini / Gorunway.com

Fotos: Umberto Fratini / Gorunway.com

Dia 2 - 7 de Fevereiro


Ashlyn 

Ashlynn Park, uma designer independente, está redefinindo o minimalismo na moda ao explorar formas esculturais e uma dimensionalidade sensorial única. Sua nova coleção remeteu ao design de móveis mid-century dos anos 1960, com uma estética sofisticada e arquitetônica.

Assim como os desfiles de alta-costura, essa coleção transporta o espectador para um cenário desértico, onde a paleta de cores sólidas e a alfaiataria impecável criam um equilíbrio entre o clássico e o inovador. A presença marcante de formas circulares conferiu um ar futurista à coleção, reforçando sua visão vanguardista.

Fiquei profundamente impressionada — esta é, sem dúvida, uma marca para se manter no radar.

Fotos: Filippo Fior / Gorunway.com

Fotos: Filippo Fior / Gorunway.com

Fotos: Filippo Fior / Gorunway.com

Fotos: Filippo Fior / Gorunway.com

Calvin Klein Collection

Esta coleção sacudiu a NYFW. A estreia da nova direção criativa, sob o comando de Veronica Leonica, uma italiana de 41 anos, conseguiu mesclar com maestria duas culturas dentro da identidade da Calvin Klein.

A coleção manteve a alfaiataria clássica, mas reinventada com shapes estruturados, casacos oversized e combinações de cores e padrões atemporais. Tudo grande, tudo maximalista. Parece que, em uma sociedade onde todos antes buscavam se encaixar, agora o desejo é justamente se destacar. Pelo menos, é isso que estou vendo nas passarelas.

Fotos: Cortesia de Calvin Klein Collection 

Fotos: Cortesia de Calvin Klein Collection 

Fotos: Cortesia de Calvin Klein Collection 

Fotos: Cortesia de Calvin Klein Collection 

Campillo

O designer mexicano retornou à New York Fashion Week para apresentar sua segunda coleção, uma celebração vibrante da cultura mexicana em um momento de transformação nos Estados Unidos. Independentemente da perspectiva ou opinião de cada um, acredito que celebrar a cultura mexicana é essencial para reconhecer que a base da identidade americana está profundamente ligada ao México.

A coleção trouxe uma estética western, com o denim como protagonista. Campillo também introduziu símbolos mágicos e lenços que evocam o vento—uma provável referência ao movimento das roupas durante a cavalgada. O que mais me impressionou foi a forma como as peças pareciam carregadas de história, com um aspecto usado e cheio de personalidade, em vez de algo simplesmente novo.

O desfile se encerra com uma camisa estampada com a frase "El Golfo de México", um claro posicionamento contra a decisão do então presidente Trump de alterar a natureza do Golfo do México. Uma coleção que foi além da moda, trazendo identidade, política e narrativa para a passarela.

Fotos: Isidore Montag/ Gorunway.com

Fotos: Isidore Montag/ Gorunway.com

Fotos: Isidore Montag/ Gorunway.com

Fotos: Isidore Montag/ Gorunway.com

Fotos: Isidore Montag/ Gorunway.com

Anna Sui

Esta coleção é mais um exemplo do renascimento do maximalismo. Não é para todos, mas define uma estética com ousadia. Padrões marcantes, cores vibrantes—uma identidade visual que solidifica a essência da marca.

O que mais me encantou foi o cenário das fotografias, que ajudou a construir todo um estilo de vida em torno da coleção. Os padrões remetem aos anos 1970, algo que eu definitivamente adicionaria ao meu guarda-roupa pessoal. Enquanto analisava as peças, fiquei intrigada—havia referências vitorianas, ecos dos anos 1920 e 1970—mas, acima de tudo, uma inovação única, como se a coleção tivesse criado uma nova ramificação no tempo e nas tendências.

Fotos: Daniele Oberrauch / Gorunway.com3

Fotos: Daniele Oberrauch / Gorunway.com3

Fotos: Daniele Oberrauch / Gorunway.com3

Fotos: Daniele Oberrauch / Gorunway.com3

Fotos: Daniele Oberrauch / Gorunway.com3

Alice + Olivia 

O que os personagens de Shakespeare usariam nos dias de hoje? Esta coleção responde a essa pergunta ao se inspirar na natureza dramática das peças shakespearianas. Um tributo impecável ao teatro e à história, traduzido em moda.

Stacey Bendet cria uma coleção deslumbrante, repleta de peças impecáveis que qualquer mulher adoraria vestir. Os padrões se combinam de forma harmoniosa, resultando em uma estética única e inesquecível. É seguro dizer que quero cada peça desta coleção.

Além disso, observando as tendências da temporada, fica evidente: o maximalismo está em alta.

Fotos: Sam Spence / Courtesy of Alice + Olivia 

Fotos: Sam Spence / Courtesy of Alice + Olivia 

Fotos: Sam Spence / Courtesy of Alice + Olivia 

Fotos: Sam Spence / Courtesy of Alice + Olivia 

Fotos: Sam Spence / Courtesy of Alice + Olivia 

Altuzarra

Inspirada por O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë, esta coleção traduz um clássico literário para a passarela, transformando o romance em vestuário. Cada peça parece sussurrar histórias do passado, equilibrando elementos modernos com silhuetas únicas—golas esculpidas, saias de formas inesperadas, proporções que transportam o espectador para um mundo fictício de paixão e melancolia.

Esta coleção não dita tendências; em vez disso, reflete o espírito de 2024, como um espelho do presente moldado pela nostalgia. Mas se há uma peça que eu compraria sem hesitar, é o conjunto de calça de seda e camisa de mangas longas—uma elegância atemporal, feita para ser vivida.

Fotos: Su Mustecaplioglu / Gorunway.com/ Courtesy of Altuzarra

Fotos: Su Mustecaplioglu / Gorunway.com/ Courtesy of Altuzarra

Fotos: Su Mustecaplioglu / Gorunway.com/ Courtesy of Altuzarra

Fotos: Su Mustecaplioglu / Gorunway.com/ Courtesy of Altuzarra

Dia 4 - 9 de Fevereiro


Khalite

Esta coleção personifica o autêntico street style nova-iorquino, com jaquetas de couro e uma paleta dominada por tons de preto. São peças básicas, mas bem estruturadas—essenciais no guarda-roupa de qualquer um.

No entanto, como um todo, a coleção não se destacou para mim. Faltou aquela faísca, algo que a tornasse memorável em meio ao mar de propostas da temporada.
 

Fotos: Cortesía de Khaite 

Fotos: Cortesía de Khaite 

Fotos: Cortesía de Khaite 

Fotos: Cortesía de Khaite 

Carolina Herrera

Normalmente, não sou grande fã de Carolina Herrera—costumo achar suas coleções excessivamente coloridas. Mas, desta vez, fiquei surpreendida. A abordagem foi mais sutil, mais contida, e o resultado, muito bem executado.

Um dos destaques foi o tecido listrado com o delicado detalhe dourado de flores—sofisticado na medida certa. Outro ponto alto foi o trench coat azul, uma peça imponente e elegante. A coleção teve seus momentos brilhantes, mas não chegou a ser mágica.

Fotos: Umberto Fratini / Gorunway.com

Fotos: Umberto Fratini / Gorunway.com

Fotos: Umberto Fratini / Gorunway.com

Fotos: Umberto Fratini / Gorunway.com

Dia 5 - 10 de Fevereiro


Coach 

Mais uma marca abraçando a tendência do maximalismo. O que acho fascinante na Coach é como ela conseguiu, com sucesso, redefinir seu público-alvo. E esta coleção é exatamente isso—uma abordagem divertida e descomplicada, perfeitamente adaptada a uma clientela mais jovem.

A base da coleção é composta por peças essenciais, elevadas por acessórios vibrantes que trazem um toque de frescor. O uso do denim foi especialmente bem explorado, criando um visual que me lembrou uma nova interpretação do street style. Sem dúvida, uma coleção que eu adoraria adicionar ao meu guarda-roupa.

Fotos: Isidore Montag / gorunway.com

Fotos: Isidore Montag / gorunway.com

Fotos: Isidore Montag / gorunway.com

Fotos: Isidore Montag / gorunway.com

Fotos: Isidore Montag / gorunway.com

Tory Burch 

Tory Burch retorna às suas raízes com uma homenagem refinada ao autêntico American Sportswear. Nesta coleção, os clássicos desse estilo ganham nova vida através de uma combinação envolvente de padrões e cores, criando um equilíbrio entre tradição e modernidade.

O uso de estampas, tanto nos ternos quanto nas peças de tricô, foi executado com precisão, trazendo dinamismo e sofisticação. Ao observar o conjunto da coleção, fica evidente a forte influência dos anos 1980—ombreiras estruturadas evocam a era do poder e da afirmação feminina na moda.

Embora esta coleção não tenha um impacto revolucionário, ela serve como um reflexo sutil das transformações culturais em curso nos Estados Unidos. Mais do que uma tendência passageira, Tory Burch captura um momento, traduzindo-o em peças que ressoam com a identidade contemporânea.

Fotos: Umberto Fratini / Gorunway.com

Fotos: Umberto Fratini / Gorunway.com

Fotos: Umberto Fratini / Gorunway.com

Fotos: Umberto Fratini / Gorunway.com

Dia 6 - 11 de Fevereiro


Michael Kors Collection 

Diante da extrema saturação do mercado, a proposta de Michael Kors para sua nova coleção foi repensar peças clássicas, explorando a simetria e brincando com o movimento. O resultado? Uma coleção que apresenta, com maestria, o futuro dos clássicos—peças tradicionais, mas reinventadas com originalidade.

O uso da pele sintética foi particularmente interessante, trazendo uma abordagem moderna e sofisticada. Um dos momentos mais brilhantes da coleção foi o terno lavanda, onde a cor injetou uma nova energia e frescor, redefinindo a elegância contemporânea.

Fiquei realmente satisfeita com esta coleção. O marrom, combinado com couro, foi estilizado de uma forma tão irresistível que desperta o desejo imediato de compra. Kors conseguiu equilibrar tradição e inovação de um jeito que faz a moda parecer, mais uma vez, emocionante.

Fotos: Isidore Montag / Gorunway.com

Fotos: Isidore Montag / Gorunway.com

Fotos: Isidore Montag / Gorunway.com

Fotos: Isidore Montag / Gorunway.com

Fotos: Isidore Montag / Gorunway.com

Thom Browne 

O grand finale da NYFW ficou por conta de Thom Browne, que trouxe uma abordagem lúdica e mágica para a moda. Em vez de seguir regras de mercado e focar na venda direta ao consumidor, esta coleção reforça a identidade única da marca, apostando na criatividade como sua maior força.

A paleta de cores neutras serve apenas como pano de fundo para o verdadeiro destaque: uma alfaiataria reinventada. As silhuetas parecem flutuar entre o universo das bonecas e uma estética russa clássica, resultando em um visual teatral e intrigante.

E para encerrar este artigo, uma coisa é certa: Browne mergulha de cabeça na estética maximalista, provando que a moda pode — e deve — ser um espaço para a experimentação e a fantasia.

Fotos: Daniele Oberrauch / Gorunway.com 

Fotos: Daniele Oberrauch / Gorunway.com 

Fotos: Daniele Oberrauch / Gorunway.com 

Fotos: Daniele Oberrauch / Gorunway.com 

Tendências NYFW Fall/Winter 2025

Olhando para a totalidade desta temporada da NYFW, três tendências se destacam com força: o maximalismo, a reinvenção dos clássicos e a moda como meio de contar histórias.

O maximalismo dominou as passarelas, aparecendo não apenas em estampas vibrantes e combinações ousadas de cores, mas também em shapes exagerados, proporções grandiosas e um espírito teatral que transcende o vestuário. De Coach a Thom Browne, ficou claro que a moda está abandonando a sutileza e abraçando a extravagância.

Ao mesmo tempo, a reinvenção dos clássicos foi uma constante. Marcas como Michael Kors e Tory Burch trouxeram alfaiataria revisitada, ombreiras inspiradas nos anos 1980 e uma nova abordagem para o American Sportswear, provando que tradição e inovação podem coexistir harmoniosamente.

Por fim, a moda se consolidou mais uma vez como um meio de narrativa visual. Muitas coleções foram além da estética para contar histórias — seja a homenagem à cultura mexicana, a dramatização shakespeariana ou a referência ao romance O Morro dos Ventos Uivantes. Os estilistas usaram suas coleções para capturar momentos culturais, refletir mudanças sociais e reforçar a identidade de suas marcas.

Se há algo que esta temporada da NYFW deixou claro é que a moda está em um momento de experimentação e ousadia. As regras estão sendo reescritas e o futuro promete ser mais expressivo do que nunca.

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