
O filme Sound of Freedom (Som da Liberdade) acende um debate real das: o tráfico de seres humanos nas Américas para fins de exploração sexual. Conforme dados da Organização das Nações Unidas (ONU), a cada ano, no mundo, 1,2 milhão de crianças e adolescentes desaparecem. No Brasil, o número, segundo o mesmo órgão, gira em torno de 30 a 40 mil vítimas infanto-juvenis.
E o alerta não está nas páginas dos jornais ou entre as campanhas de estatais de combate. A “lei do silêncio” parece não ser um fenômeno somente no Brasil, é o que ressalta o filme. O longa surge com a missão de trazer à tona a questão cada vez menos enfrentada. Na Bahia, trabalhando como repórter policial por anos, pude perceber que a internet, nos inícios dos anos 2000, surge como meio para a ampliação do aliciamento sexual feito pelos criminosos.
Na medida que a tecnologia aparece como ferramenta para os criminosos, o silêncio só cresceu, ao ponto de parecer ensurdecedor. A falta de um cadastro nacional unificado de pessoas desaparecidas, a demora das autoridades em procurar quem sumiu e a indiferença da sociedade em relação ao problema cresceram na mesma proporção.
Trazendo apenas os números (de 30 a 40 mil desaparecidos anualmente), as causas e o problema, sem uma história como a das duas crianças do Sound of Fredom, nos personagens de Rocio e Miguel, é difícil ter noção da dimensão do problema. Então, abro espaço para uma superficial experiência com o tema. Há 18 anos, entre uma matéria e outra, fui procurada na redação do jornal por uma mãe que reclamava o desaparecimento da filha de 13 anos à época.

Afirmava ter procurado as autoridades baianas que, segundo ela, alegava ser apenas um caso dentre tantos outros de jovens que fogem de casa. Bem, embora tenha tentado ajudar com matérias e cobrando posicionamento da polícia, o caso não passou de três linhas de um boletim de ocorrência para os investigadores.
A menina costumava andar com “amigas mais velhas” que abordavam caminhoneiros nas rodovias federal e estaduais próximas à grande capital. A mãe nunca teve notícias da filha.
Em uma das poucas iniciativas estatais, logo após o registro policial, em 2006, o juizado de menores desmontou uma casa de exploração de crianças e adolescentes no subúrbio ferroviário de Salvador. Meninas de 12, 13 e 16 anos, uma delas, grávida de três meses realizavam programas a mando de uma mulher que foi presa por R$ 5. Eu estava lá e o cenário era de triste degradação humana.
Se já era raro o tratamento da temática, hoje é quase impossível ver o tema em reportagens. O fato do tráfico e exploração de crianças e adolescentes não ser tratado pela grande mídia, não significa que não exista. Em agosto do ano passado, a embaixada e os consulados dos Estados Unidos no Brasil apresentaram o “Relatório sobre o tráfico de pessoas 2022 – Brasil”.
O estudo aponta que “os traficantes exploram crianças no tráfico sexual ao longo de estradas brasileiras, incluindo a BR-386, BR-116 e BR-285. O turismo sexual infantil permanece sendo um problema, principalmente em áreas de resorts e do litoral; muitos praticantes de turismo sexual infantil são da Europa e dos Estados Unidos”.
Palmas para o diretor Alejandro Monteverde, que retratou o tráfico sexual infantil nas Américas brilhantemente. Então, não é demais lembrar dados do próprio filme: O tráfico de crianças e adolescentes movimenta mais de 150 bilhões de dólares por ano, coisa de R$ 738,3 bilhões de reais.
Assista no primevideo.com
Artigos Populares

Onde encontrar inspirações de feminilidade?

Recuperando tradições: gratidão inspira tradicional festa de Reis da Ruiz Coffees

Por que os beach clubs fazem tanto sucesso no Brasil e no mundo?

Como substituir telas por momentos enriquecedores nas férias

Nomofobia: o medo irracional de ficar sem celular e o impacto na vida escolar