Cultura

Relações abusivas: uma realidade oculta e devastadora

Por
Alexandre Chut

4/10/2025

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Foto: Adobe Stock

Relações abusivas são e sempre foram tratadas de forma oculta nos vínculos humanos, sejam entre casais, familiares, colegas, estudantes ou profissionais, abrangendo áreas econômicas, culturais, sociais e políticas. 

Essas relações são tóxicas, opressivas e violentas, nas quais sempre sobressai o abuso de poder sobre a outra pessoa. 

Historicamente, a maior porcentagem das vítimas é de mulheres. Mas ao mesmo tempo é perceptível que tem também mulheres que manipulam homens. 

Este tema é complexo, mas faz parte da realidade da sociedade. Por isso creio ser importante compartilhar aqui estudos e reflexões sobre o assunto.

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Foto: Pexels

Relação tóxica x relação abusiva

Antes de mais nada é importante entender os impactos e diferenciar a ‘relação tóxica’ da ‘relação abusiva’.  Toda relação é uma base de troca e tem que ser boa para todo mundo. Uma relação tóxica é o início do desequilíbrio - é bom para um, mas não para outro. 

Isso geralmente ocorre com o narcisista e a oligofrênica. O narcisista se foca nos próprios assuntos, ama a si próprio, enquanto a oligofrênica fica sofrendo, calada e ao mesmo tempo sente culpa em tudo. 

Seguindo os desejos e vontades do narciso. Claro que é uma relação ruim, com comportamentos negativos, mas nem sempre  intencionalmente controladores ou abusivos. 

Os personagens da relação abusiva seriam, por sua vez, o psicopata ou o sociopata, que abusa, utiliza e manipula a pessoa para assuntos de seu interesse. 

É um relacionamento em que há abuso intencional para controlar, intimidar e ferir, com comportamentos que visam dominar a outra pessoa. O que há em comum entre os dois tipos é que não há atenção para a outra parte.

Muitas pessoas confundem apego com amor; codependência no sentimento de se sentir controlada com o sentimento de se sentir cuidada, apoiada e apreciada.

Impactos na mente e no corpo

Viver em uma relação abusiva pode causar diversos impactos profundos e negativos na saúde física, mental e emocional da pessoa. 

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Foto: Pexels

Algumas das principais consequências incluem:

  • Baixa autoestima e autoconfiança: A pessoa pode começar a acreditar nas críticas e humilhações, sentindo-se inferior e incapaz de sair da relação.
  • Ansiedade e depressão: O abuso constante e o ambiente de tensão levam a níveis elevados de estresse, frequentemente resultando em ansiedade, crises de pânico e depressão.
  • Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT): A pessoa pode desenvolver sintomas de TEPT, como flashbacks, pesadelos e dificuldade de concentração, especialmente após episódios traumáticos.
  • Dificuldade em estabelecer relacionamentos saudáveis: Depois de uma relação abusiva, fica mais difícil confiar no outro. Isso pode afetar amizades, futuros relacionamentos amorosos e até relações familiares.
  • Isolamento social: Muitos abusadores tentam isolar suas vítimas para controlá-las melhor, fazendo com que a pessoa se afaste de amigos e familiares e se sinta sozinha.
  • Dependência emocional: A pessoa pode acabar desenvolvendo uma dependência emocional pelo abusador, acreditando que precisa dele(a) para sobreviver ou que não conseguirá ser amada por mais ninguém.
  • Problemas físicos: O estresse e o desgaste mental podem resultar em sintomas físicos como dores de cabeça, problemas gastrointestinais, insônia e outros problemas de saúde.
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Foto: Pexels

Acredito que os problemas de ordem psicossomática são mais severos do que possamos imaginar. Vejo como imunidade baixa e enfermidades que se desenvolvem de forma tão profunda que ficam como marca registrada das relações tóxicas e abusivas.

Ao estudar a substância química do autocontrole, a dopamina, percebe-se que ela se liga a uma cadeia específica de aminoácidos e percorre via corrente sanguínea todas as células do corpo. 

Quando sentimentos são engasgados, em especial a raiva, o corpo grita em silêncio, desencadeando uma reação intracelular que afeta receptores neurológicos e imunológicos, como leucócitos, macrófagos e eosinófilos. Consequentemente, a imunidade fica baixa, e a vítima de relações abusivas pode desenvolver diversas enfermidades autoimunes e até fatais. 

A proteção do abusador

Os abusos, mesmo destrutivos, são sempre protegidos e velados. Muitas vezes, há conivência por parte de quem sofre este maltrato, e a vítima pode, de certa forma, proteger o agressor. 

Esses efeitos são profundos e podem durar muito tempo, mesmo após o término da relação. A pessoa pode se beneficiar de apoio emocional e, em especial, da psicoterapia para reconstruir a autoestima, a confiança e a independência emocional. 

Mudanças coletivas de comportamento

Há uma forma mais simples de observar essas mudanças coletivas de comportamento através da arte e da cultura. Dois filmes atuais que mostram exemplos para esta mudança de comportamento: ‘Pobres Criaturas’ e ‘É assim que acaba’. Ambos mostram as consequências de relações abusivas, mas oferecem uma nova alternativa saindo desta relação defeituosa.

Toda vez que há mudanças, sempre há uma polaridade entre a luz e a falta de luz. Enquanto sociedades podem evoluir no tema do equilíbrio entre homem e mulher, outras sociedades caminham para trás. Algumas sociedades desenvolvem-se à sombra deste empoderamento. 

Justiça limitada

Apesar de as relações abusivas serem um tema recorrente,  ao mesmo tempo as sociedades insistem em esconder esta questão tão violenta e opressora. As leis, por mais que tenham a função de proteger, de fato não servem para tal escudo às vítimas, muito menos ajudá-las no pós trauma. Por necessitar de provas físicas e ainda colocar a vítima e agressor frente a frente, cada um com sua fala, torna a justiça limitada e omissa.

O abusador usa sua posição privilegiada de poder e hierarquicamente superior para submeter a vítima às suas vontades e caprichos. Porém, utiliza de técnicas manipulativas e dissimuladas para que a pessoa não se sinta usada, nem vítima, concedendo-lhe um acesso especial e direto com sua pessoa e exigindo admiração e até idolatria.

Normalmente, essa relação se perpetua por longos anos sem que a vítima reconheça o abuso que sofre, o qual se torna normalizado e incorporado nesta relação. O abuso é velado, eclipsado e muitas vezes até justificado pela vítima que não consegue ter consciência do que está passando.

Mesmo com ajuda terapêutica leva anos para ter consciência desse trauma e a vítima que consegue se recuperar a ponto de buscar suporte na justiça e reparação dos danos sofridos, pode se deparar com a prescrição dos seus direitos, pois passou o prazo legal, levando a mais uma frustração e dificultando o processo de recuperação emocional. 

Como lidar com relações abusivas?

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Primeiro, é essencial falar abertamente, especialmente para que as mulheres saiam do sofrimento silencioso e denunciem suas relações abusivas, influenciando uma nova visão da justiça para que estas experiências traumáticas diminuam. É importante incentivar as pessoas que sofrem tal violência a procurar profissionais especializados que possibilitem dar suporte e participar de grupos de apoio que fomentem atitudes para enfrentar isso.

Enfim, transformar a derrota em vitória.

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