
Minha amiga Jacky me contou essa história. Foi seu primeiro casamento, e naquela época ela ainda acreditava em contos de fadas. A quebra de expectativa, porém, foi dolorosamente cruel.
Um professor de biologia perguntou à turma se haveria interesse em um curso de informática na região, pois ele estava pensando em investir. Os olhos de Jacky brilharam de imediato. Ela prontamente indicou um galpão perto de sua casa que estava disponível para alugar e até se ofereceu para reunir os nomes dos interessados. Na verdade, a maior interessada era ela mesma, já que nunca havia tocado em um computador e sonhava em aprender. Ela se via tendo um em casa, navegando pela internet — mesmo que no povoado onde morava nem celular pegasse — e explorando as infinitas possibilidades que a tecnologia prometia.
Ela lembra que o curso custaria R$ 30 mensais e não seria um problema para seu marido pagar. Jacky contou ao professor que falaria com ele, mas o professor, agradecido por sua ajuda, disse que ela não precisaria pagar.
— Amor, o professor vai abrir um curso de informática aqui pertinho e ainda me deu o curso de graça! — disse ela, animada.
— Por que ele te daria esse curso? Quem mais vai fazer? Por que você quer fazer esse curso? Tá achando que vai fazer faculdade? A G. vai fazer também? — perguntou ele, referindo-se à esposa de seu irmão.
— Não sei se ela vai... não perguntei — respondeu, tentando esconder sua decepção.
— Só vai fazer se ela for.
Jacky não deixou que ele visse as lágrimas que caíram em seguida. Não queria lhe dar esse prazer. Mas chorou. Chorou por ter seus desejos e sonhos presos à vontade de outra pessoa. A frustração de ter algo tão simples arrancado de suas mãos foi devastadora. Naquele momento, ela odiou a G., que não tinha culpa de nada, mas parecia ser o único obstáculo entre Jacky e sua tão sonhada liberdade. Liberdade essa que era pequena, mas era dela. Crescer talvez não fosse a palavra exata, pois ela sabia que não poderia trabalhar. Mas o curso seria uma pequena liberdade, uma novidade, algo raro no lugar onde moravam. E ela não pôde ter.
Outra época, outra amiga.
Marla nunca havia se realizado tanto em um casamento, e seu marido precisava de um trabalho específico que valeria mais a pena se ela fizesse um curso de aperfeiçoamento. Ele afirmou com todas as letras:
— Você vai fazer o curso!
Ela tinha noção e vontade de aprender, e ele assegurou bancar metade do curso. Logo, ela começou a trabalhar com o marido.
— Você vai crescer! Deixa essa mentalidade de funcionária. Você não trabalha pra mim, você é uma prestadora de serviços e vai receber como tal. — Ele sempre brincava que o sonho dele era ser bancado pela esposa e virar um "sugar baby."
Ali, Marla soube que o maior interessado no seu desenvolvimento pessoal e profissional era o próprio marido. Mesmo após o divórcio, o laço profissional continuou intacto, e Marla ainda era incentivada pelo ex.
E sabe o que a Jacky e a Marla têm em comum? Ambas foram eu. A história da Jacky é a minha história, e da Marla também. Infelizmente, já fui a Jacky, e, felizmente, já tive a oportunidade de ser a Marla. Foram momentos diferentes, maturidades diferentes, e pessoas diferentes.
Olhando para trás, percebo que, por mais que sejamos dois, devemos primeiro nos completar a nós mesmas. Devemos ser independentes, saber que nosso valor não está nas mãos de quem quer que seja. As companhias devem vir para somar, não para limitar. Nunca se pode esperar um relacionamento perfeito, mas o desejo de crescer deve ser mútuo.
Será que você está realmente pedindo muito ou só está pedindo para a pessoa errada?
Sei que não devemos colocar nossos sonhos nas mãos alheias, mas, quando se escolhe viver a dois, o que se espera é pelo menos incentivo para realizá-los. Às vezes, o mínimo é doloroso de ser feito por quem só pensa em si mesmo.
Não se permitam ser a Jacky.
Artigos Populares

Recuperando tradições: gratidão inspira tradicional festa de Reis da Ruiz Coffees

Onde encontrar inspirações de feminilidade?

Por que os beach clubs fazem tanto sucesso no Brasil e no mundo?

Como substituir telas por momentos enriquecedores nas férias

Nomofobia: o medo irracional de ficar sem celular e o impacto na vida escolar