A santa que conheci de perto
Por dentro da trajetória de irmã Dulce, o anjo baiano que transmitia a beleza da bondade
PorLuzia Santhana
4/7/2025

Irmã Dulce Santa Canonizada (Foto: WikiCommons)
Irmã Dulce é a mais alta representação feminina: amor puro, generoso e altruísta. Muitos de nós, baianos, tivemos a bênção de testemunhar sua trajetória e sentir de perto a grandiosidade de sua missão.
A menina Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes nasceu em maio de 1914 para se tornar uma entidade. Um anjo que personificava o bem e a alma feminina que chamamos de amor. Desde cedo, sua vocação para o auxílio ao próximo se manifestava em pequenos gestos de compaixão.

Elevador Lacerda, com Baía de Todos-os-Santos ao fundo, em Salvador (Foto: WikiCommons)
Na Cidade Baixa, descendo pelo Elevador Lacerda, está o comércio de Salvador, região que abrigava o centro financeiro da capital baiana. Meu pai trabalhava lá. Eu e muitos outros frequentávamos aquele reduto de bancos e entidades importantes, onde víamos passar a freira pequenina.

Irmã Dulce aos 13 anos de idade (Foto: WikiCommons)
Ela caminhava apressada, muitas vezes sozinha, visitando empresas que a ajudavam a espalhar amor e cuidados para quem precisava. Seu trabalho incansável começou aos 13 anos, quando escolheu a vida religiosa.
Durante uma visita a uma área carente com sua tia, não conseguiu conter a compaixão. Desde então, passou a buscar e acolher doentes e mendigos pelas ruas e periferias da cidade. Inicialmente, os levava para a casa dos pais, que logo ficou pequena.
Convencendo madres superioras, padres, arcebispos, políticos, empresários e a população, liderou a construção do maior centro de saúde beneficente do Brasil: a Associação Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), fundada em 1959.
Sua missão resultou no Colégio Santo Antônio, voltado para operários e seus filhos. No Convento Santo Antônio, transformou um galinheiro em albergue para desabrigados e, mais tarde, construiu e ampliou o hospital de mesmo nome.
A cada passo, Irmã Dulce superava obstáculos com determinação e fé. Mesmo sem recursos financeiros abundantes, conseguiu mobilizar pessoas e recursos, tornando real o que parecia impossível.
Atualmente, esse complexo médico, social e educacional atende três milhões de pessoas na Bahia, realiza 6,6 milhões de procedimentos ambulatoriais, serve 1,2 milhão de refeições e registra 63 mil internamentos anuais. Para sustentar essas operações, a Osid fabrica e comercializa bolos, pães, imagens, livros e terços. Grande parte dos recursos vem do SUS e de doações de empresas e fiéis.
Médicos, enfermeiros, ex-pacientes, antigos órfãos e frequentadores da igreja no Largo de Roma dedicam-se ao trabalho sem remuneração. São voluntários que, inspirados pelo exemplo de Dulce, presenciam diariamente a solidariedade e o acolhimento que fazem parte da essência da entidade.
Mesmo enfrentando problemas pulmonares ao longo da vida, Irmã Dulce nunca desistiu de buscar alimento e cura para milhares. “Se todos derem amor, vai ser muito mais fácil”, dizia. A força de sua mensagem ressoa até hoje, inspirando fiéis e admiradores de sua história.

Padres na cerimônia de Beatificação de Irmã Dulce no Parque de Exposições em Salvador, Bahia (Foto: Manu Dias/Secom)
Dulce faleceu em março de 1992, aos 77 anos. Seus milagres levaram à canonização pelo Vaticano em 13 de maio de 2019. O primeiro milagre reconhecido foi o de Cláudia Cristina, que, desenganada por conta de uma hemorragia, se recuperou após a visita de um padre que orou por intercessão da irmã. O segundo milagre foi o de um senhor baiano que, após 14 anos sem enxergar, recuperou a visão.
Chamada de Anjo Bom da Bahia, Irmã Dulce se tornou poesia e devoção pelas praças, ruas e becos. Nós, soteropolitanos de algumas gerações, testemunhamos sua incansável peregrinação em socorro a enfermos, crianças, idosos, viciados e excluídos.
Seu legado transcende o tempo e continua vivo nas Obras Sociais Irmã Dulce. Seus olhos transmitiam a beleza da bondade, e sua trajetória permanece como um farol de esperança e compaixão para o mundo.
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