Alegria é um estado que chamamos Bahia
As festas de largo de Salvador
PorLuzia Santhana
4/13/2025

Fé, cultura e baianidade se misturam pelas ruas de Salvador durante todo o ano em forma de festa e celebração (Foto: Tatiana Azeviche, Turismo Bahia)
No ano passado, um vídeo circulou pelas redes sociais retratando de forma precisa o que Salvador - e a Bahia de maneira geral - causa nas pessoas quando chegam aqui. A poesia, que veio em forma de meme, diz que se você tem um problema qualquer ou está se sentindo infeliz, a solução é simples: vá para a Bahia!
Na Bahia, há uma reação excitante, que entra pelas narinas, pelos ouvidos, pela pele, e que faz o coração palpitar. Pelas ruas, há sempre um batuque, uma música contagiante que influencia o passo. Sem perceber, estamos andando em ritmo com cadência que faz o mais distraído mortal diferenciar que aqui, definitivamente, o humor muda e se entrega à atmosfera da constante festa.
O verão de Salvador começa em setembro com os carurus de São Cosme e Damião, que perfumam todas as esquinas. Não que esse aroma não esteja presente o ano inteiro, mas nos dias que circundam 27 de setembro, o cheiro é mais forte. Por aqui, todos são devotos (é algo que vem de berço) e fazem promessas para os santos gêmeos.
Às vezes, nem se é tão religioso assim, mas a tradição familiar leva os soteropolitanos às feiras de São Joaquim e das Sete Portas para comprar o quiabo, ingrediente protagonista do xinxim, o camarão seco, o coco, os amendoins, as castanhas e as galinhas para fazer o prato clássico.
Além deste, há uma infinidade de outros pratos que compõem a culinária das legítimas mesas da Terra da Felicidade e que se espalham pela cidade servindo, primeiramente, a sete crianças, e, depois, aos adultos que aguardam comendo acarajé e abará, regado por muitas cervejas (nos carurus de preceito, ou seja, de promessa, é proibido servir bebida alcoólica).

Festa de Santa Bárbara, ou Iansã, reúne celebrações no Centro Histórico (Foto: Amanda Oliveira, Flickr)
Em 4 de dezembro, mais caruru. Dessa vez para Santa Bárbara, que no sincretismo religioso é a própria Iansã. Isso representa uma mistura de religiosidades que se unem para festejar a Rainha dos Raios, principalmente na região do Centro Histórico com seus tradicionais panelões enfeitiçantes que matam a fome de axé de quem passa.
As festas de largo
No verão, as festividades se espalham em frente às igrejas e praças de Salvador. Conhecidas como festas de largo, elas se iniciam com a tradicionalíssima Festa da Conceição da Praia, em 8 de dezembro. A festa da Padroeira da Bahia é como um cenário de filme de “baianidade”, com missas, procissão marítima e muitas manifestações culturais.
Os “religiosos foliões” se encontram em frente a Igreja de Nossa Senhora da Conceição Da Praia, que fica do outro lado da rua do Mercado Modelo e ao lado do Elevador Lacerda.
Até as barracas, que antes eram coberturas de lonas arranjadas às pressas e improvisadas, com engradados de cerveja servindo de banquinhos, já evoluíram e estão quase padronizadas.

Gratidão do Povo, galeota mais famosa da procissão do Senhor dos Navegantes (Foto: Quelsanbac, Wikicommons)
Abrindo o ano, em primeiro de janeiro acontece o Cortejo no Mar com a procissão do Senhor dos Navegantes, protetor dos pescadores. O barco mais emblemático do ritual, a galeota Gratidão do Povo, sai da Igreja da Boa Viagem, na Cidade Baixa, e faz seu cortejo de embarcações ali, na linda Baía de Todos os Santos.

Lavagem do Bonfim é uma celebração centenária em Salvador (Foto: Tatiana Azeviche, Turismo Bahia)
Mas a festa de largo mais famosa é a Lavagem do Bonfim, uma comemoração centenária que acontece na segunda quinta-feira de janeiro, e movimenta a Cidade Baixa inteira. Claro, ela também movimenta a Cidade Alta, que é separada apenas pelo Elevador Lacerda, onde se formam filas quilométricas de gente vestida de branco que prefere o tradicional meio de transporte (além das muitas outras que descem pelas ladeiras e outros elevadores do entorno).
O cortejo sai da Igreja da Conceição e segue por oito quilômetros até a Colina Sagrada, atraindo milhares de devotos, turistas e foliões. Ao longo do trajeto, a multidão se espalha, mas, de forma quase inexplicável, muitos conseguem alcançar o átrio da Igreja do Senhor do Bonfim.
Lá, as baianas, com seus jarros de água de alfazema, lavam as escadarias enquanto missas são celebradas fora da igreja. Tem gente chorando, tem gente cantando, tem gente dançando, tem gente se encantando, o certo é que tem muita gente e é, definitivamente, um delírio coletivo.

Festa de São Lázaro acontece no bairro da Federação (Foto: Pixabay)
No final de janeiro, acontece a purificação na Festa de São Lázaro, conhecido por Omulú, no sincretismo religioso das religiões católica e candomblé. Na porta da igreja, no bairro da Federação, as baianas e fieis vestidos de branco dão e tomam banhos de pipoca, para limpar e trazer boas energias aos que ali comparecem.

Festa de Yemanjá domina o mar do Rio Vermelho (Foto: Rita Barreto, Turismo Bahia)
Linda e muito esperada, na Festa de Yemanjá o mar do Rio Vermelho amanhece coalhado de pequenos barquinhos e de todos os tipos de embarcações que vêm de todo canto para presentear a Rainha do Mar. Eles trazem cestos cheios de oferendas e flores para lançar ao mar.
O Rio Vermelho inteiro vira um grande salão de festas: dentro e fora das casas, em clubes, restaurantes e hotéis. As ruas são inundadas de grupos de músicos e passantes que entoam canções e dançam até o dia raiar outra vez. Nesse dia, todos vestem branco e azul, e o clima é de emoção e fé, além de muita festa.

Lavagem de Itapuã encerra o ciclo do verão antes do Carnaval (Foto: Flickr)
A Lavagem de Itapuã encerra o ciclo do verão antes do Carnaval e acontece sempre poucos dias antes da Folia Momesca. O bairro, endeusado pelo poeta Vinicius de Moraes, recebe baianos e quem vier para se misturar num clima de descontração e banho de mar. Na vida você não leva nada, senão “dormir nos braços morenos da lua de Itapuã”.
Salvador é o resumo desse estado cheio de encantamento e religiosidade. A alegria do povo baiano é tão intensa e tão leve que o turista menos avisado só pensa em uma coisa depois de viver alguma dessas experiências: voltar para Bahia e descobrir que ali também é seu lugar.
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