Cultura

Art. 1º “EMPATIZAREMOS”

Em tempos de conexão virtual, empatia é o princípio para nortear as relações

Por
Luciana Lima

4/10/2025

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Colocar-se no lugar do outro é um desafio, mas ter empatia é um ato de amor (Foto: Freepik)

Como é difícil a missão de se colocar no lugar do outro. Oferecer a outra face. Pensar que você gosta de barulho de chuva para dormir, enquanto se esquece do morador de rua que sofre com o aguaceiro, sem um teto. Enquanto uns que romantizam gostos, outros sofrem.  

“Um pouco de perfume sempre fica nas mãos de quem oferece”

Provérbio Chinês

Só de ligar os jornais vemos que a empatia está cada vez menos importante. Seja pela exploração minuciosa das acorrentadas notícias, seja pela exploração quase que única da parte trágica de qualquer situação. Somos todos bandidos. Não sobrou nenhum herói?  

As redes sociais aos poucos tomam assento no quarto poder, até então ocupado pela mídia tradicional. Pelas redes virais se fazem os atuais vilões, bandidos e mocinhos. Para apimentar esse fenômeno, a velocidade de multiplicação da notícia faz a informação, em segundos, ecoar por todos os continentes do planeta. 

“Sabemos o que é empatia?

Praticamos empatia?

Oferecemos nossa empatia?

Esperamos mais empatia dos outros?

Fazemos empatia seletiva?

É possível ter empatia virtual?”

Se de um lado, as redes sociais nos auxiliaram a aproximar pessoas até de nossa velha infância, de outro, contribuíram para que as relações fossem maciçamente virtuais, superficiais e distantes. 

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Mudamos nossa vida para dentro dos celulares e a empatia ainda parece não caber nas telas (Foto: Freepik)

Com a pandemia, o quadro se agravou. Fomos compulsoriamente obrigados a aprender a respirar pela internet. Nosso CEP virou o número de telefone, mudamos para dentro dos celulares. Fomos obrigados a visitar nossos parentes pelas telas. Fomos obrigados a esfriar nossos sentidos ou, no mínimo, desestimulá-los. 

Para mais, esse volume de informações diárias que estamos submetidos - quer pelo trabalho, quer pelas conexões virtuais - certamente excedem as 24 horas diárias regulamentares, não permitindo sequer que nossa mente descanse. Ainda não somos ciborgues, mas perdemos a capacidade de nos relacionar com nós mesmos e com o mundo e, infelizmente, reduzimos a empatia com o próximo. 

Por vezes, passamos o dia a pensar nas tarefas corriqueiras diárias, e já somos felizes se alcançamos nossas metas pessoais diárias. Mais cinco estrelinhas no diploma da vida real se alcançarmos as metas profissionais. 

Querer ainda cuidar com empatia das pessoas que nos cercam e, até de terceiros que sequer conhecemos, mas que precisam de ajuda, parece tarefa de extraterrestre, ou até mesmo de super robôs. 

Esse artigo está menos jurídico. Por outro lado, mais uma vez, acredito que tem muita relação com o direito, com o respeito, com as relações interpessoais. Muitas delas, em que a letra fria da lei, ou dos julgamentos não é alcançada. Tem nítida relação com a forma com que queremos estar em nosso planeta, como energia boa ou ruim, beirando a metafísica e a física quântica, da energia que a parte legal/jurídica não consegue alcançar, sequer tutelar.

Mais respeito, mais empatia

Já abordei a questão que somos únicos em direitos e obrigações. Que a condição de respeito é a primeira, antes de qualquer divisão por sexo, raça, credo, opção afetiva, cor, religião. 

O bem maior é o respeito ao indivíduo, independente de qualquer condição ou opção. Se a lei fosse aplicada a todos, enquanto indivíduos, precisaríamos de tanta segregação? 

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O bem maior é o respeito ao indivíduo, independente de qualquer condição ou opção (Foto: Unsplash) 

Um olhar diferenciado impõe que estejamos no mesmo cenário, no mesmo enfoque, sem ditar diferenças. Empatia é se ver do outro lado, é tentar compreender o próximo, é acolher, é amor: o verbo mais divino, que o Direito deveria usar como princípio fundamental de todas as relações.

Se toda a energia que circula pelas redes sociais tivesse mais finalidade de cuidado com o próximo, não teríamos número de casos tão crescente de transtornos mentais, afetivos e sociais. Mas, ao que parece, é que isso está cada vez mais raro e distante. As redes sociais viraram planteis de beleza inalcançável, felicidade surreal, amores impossíveis acabando por multiplicar os números já alarmantes de depressão e suicídio.

Família é o pilar da empatia

Assim, o problema já entra no campo das medidas preventivas de saúde pública. A reversão deste caótico quadro talvez só esteja no alcance das famílias, do ensino de valores, da tolerância e sobretudo do amor próprio e do amor para com nossos semelhantes.  

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A reversão deste caótico quadro talvez só esteja no alcance das famílias (Foto: Unsplash) 

O bom humor. O carinho. A escuta ativa. O elogio. O abraço. O cuidado. Tudo gratuito e de fácil alcance para todos. Depende de cada um de nós, para mudar a família e depois a sociedade.

O Direito busca harmonia de regras para o crescimento social mais fraterno... e por falar em sociedade fraterna, até o preâmbulo de nossa constituição (lei suprema) tem como objetivo esse valor:

“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte Constituição da República Federativa do Brasil.” 

Uma lição de amor para iniciarmos o ano com uma simpatia moral! 

Um abraço legal e fraternal.

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