Cultura

O perigo das guerras identitárias

Mulheres podem (e devem) valorizar sua força, buscando retomar seus valores absolutos

Por
Luciana Lima

4/9/2025

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Batalha entre mulheres e homens divide e impede avanços (Foto: Shutterstock).

O valor do feminino é discutido desde as escrituras sagradas. Provérbios 14:1 já semeia que a mulher sábia edifica a sua casa. O livro, que certamente melhor orienta a nossa vida, já ensina que a grandeza de ser mulher é para aquelas que buscam a sua evolução na melhor tríade: corpo, mente e espírito.

Sem dúvida, para estarmos bem e cuidarmos daqueles que caminham conosco, o primeiro passo é construir bons alicerces dentro de nós mesmas.

A grandeza do feminino é revelada nas ações (não nos discursos), nas mulheres de fé; nas mulheres que contribuem e embelezam a sociedade; nas mulheres que optam por ser mãe em tempo integral e hoje tem esse poder de escolha, sem qualquer problema de julgamento; nas mulheres mães e profissionais; nas mulheres esposas; na mulheres filhas; nas mulheres amigas; nas mulheres que também possuem diversas habilidades profissionais, inclusive contando com sensibilidade e intuição que as diferem; nas mulheres que desafiam suas origens, sua criação e podem escolher sua profissão de acordo com sua vocação, nas mulheres na política…

Você pode estar em qualquer dos públicos acima identificados ou até naqueles não citados, mas sem dúvida, esse artigo é para a mulher que consegue ter uma visão minimamente crítica da sociedade, sem vitimismo e com elegância, sem endemonizar o masculino, que pensa que sua força social vem da soma e jamais da divisão. 

Em que momento se iniciou a guerra dos sexos? 

Como já debatido pela libertária americana Camille Paglia, a liberdade para o indivíduo, seja homem ou mulher, é fundamental. Em sua obra, ela provoca  a civilização ocidental e os homens que a construíram não merecem algum crédito? As feministas não ignoram tudo de importante quando impõem essa divisão - da arte, ao sexo, passando pela felicidade das mulheres?

Claro que seria insensato desprezar os movimentos sociais em favor dos direitos da mulher,  os rotulando apenas como causas “feministas”. Há que se exaltar que, por força de valiosas lutas, conquistamos muitas liberdades: a garantia constitucional dos direitos iguais, de poder aprender a ler, trabalhar e estudar, de se casar com quem quiser, e até da amplitude do combate à violência contra mulher e outras centenas de direitos,  como o valoroso direito ao voto. 

Porém, se por um lado conquistamos muitos direitos e poderes, por outro, recuamos nesses últimos dez anos. Ao meu ver, um verdadeiro retrocesso. Nossas ancestrais lutaram pela garantia de tantos direitos e, provavelmente, hoje, estariam envergonhadas de tanto vitimismo ou de termos perdido espaço para pautas identitárias. 

Para ilustrar esta análise cito dois gritantes exemplos: a) as mulheres disputando com homens biológicos em competições de alto rendimento; ou mesmo, b) as grandes marcas em eventos comemorativos e simbólicos,  como a do Dia das Mães, que optam por fazer campanhas usando modelos transexuais.

Na minha avaliação, a luta continua, desta vez em resgate aos valores absolutos da mulher. Os direitos igualitários há muito conquistados foram eficientes, não fosse um moderno histerismo ideológico que fomenta a discussão das mulheres contra os homens, das minorias contra as maiorias. 

A escalada esquizofrênica da Guerra dos Sexos, de tantas divisões e imposições de agendas não é salutar. Parece que estamos do avesso.  Uma afrontosa investida para a divisão social, pela qual se incentiva a inversão da polaridade natural e biológica, com mulheres fortes e homens frágeis. 

Trata-se aqui de um nefasto sombreamento que tais pautas tem feito à revelia dos direitos da mulher. Se lutamos tanto para alcançar nosso espaço, agora a luta será para garantir a manutenção deste. A guerra ainda é silenciosa, já que qualquer posicionamento neste sentido é afrontoso ou sujeito à “lacração”.

A (in)justiça do vitimismo 

No ambiente jurídico temos um episódio que retrata a situação social atual, em que se defende o discurso “vitimista”, acolhendo-se as frágeis mentes que se ofendem por não poderem ser mães naturais, em negação total à ciência e à biologia. 

Em julgamento de 17 de outubro de 2024, o  Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por unanimidade, que a Declaração de Nascido Vivo (DNV) - emitida pelos hospitais no momento do parto - deve incluir a palavra “parturiente” ao lado de mãe, no campo do registro de quem deu à luz. Também assegurou, a inclusão do termo “responsável legal” ao lado de pai. 

Segundo o STF, essa decisão não invisibiliza nem fere nenhum direito das pessoas cis/heterossexuais. Apenas amplia a nomenclatura do registro para incluir a população transexual.

Essa acomodação e contentamento para os nichos subjugados é a atual armadilha social, pois parece que jamais terá fim. Em vez de lutarmos pelo fortalecimento da dignidade e do respeito para todos, estamos buscando contentar questões muitas vezes frágeis e temporárias.  

Com todo respeito e com amparo na liberdade de expressão, se o STF pautasse assuntos de maior interesse social e econômico, que pudessem de fato contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos como um todo, talvez o assunto teria menor repercussão crítica. 

Ademais, estes precedentes que ajudam no caminho de causas de divisão social, ao meu ver, destoam da garantia constitucional de “todos são iguais perante a lei”. Todos são merecedores de respeito, independentemente de fração ou divisão, a Justiça seria mais hegemônica e daria sempre guarida ao interesse social amplo.

Outra questão que urge ser abordada é o combate às denúncias falsas de violência doméstica e abusos sexuais, uma vez que o desenfreado histórico de casos falsos acaba por enfraquecer, diluir, vulgarizar e deteriorar os casos que de fato merecem atenção e legislação rígida.

A banalização de casos falsos desta temática mascaram os casos reais, seja por retirar o foco, seja por dessensibilizar o tema, seja pelo desvio de equipes de investigação que deveriam estar concentrados nos casos reais, seja pela desvalorização e descredibilização da temática por usar o poder judiciário como canal de vingança e vitimismo, enfraquecendo o combate a violência em qualquer forma.  

O número de denúncias falsas de violência e abusos sexuais é crescente, estimadas em 80% das denúncias em algumas varas do país são falsas, de acordo com matéria publicada pelo portal Conjur.

Inadvertidamente, muitas mulheres têm usado o poder judiciário com revés pessoal, como forma de retaliar os ex-cônjuges, companheiros e namorados. Isso é um fator de desequilíbrio social e que merece a discussão com seu valioso cuidado, ponderando-se uma penalização majorada nos casos de manipulação e dolo para denúncias comprovadamente caluniosas, como já ocorre no Reino Unido, Austrália, e alguns estados dos Estados Unidos. 

Neste mosaico de ideias sobre o feminino, ainda quero destacar a mulher no campo dos esportes. Estamos perdendo espaço com a covardia escandalosa na permissão de um homem biológico competir em igualdade de condições com uma mulher, que poderá acarretar num apagamento feminino em competições futuras. Se não provocarmos este debate social, o esporte feminino poderá ter data para acabar, já que o doping transbiológico fere o maior princípio desportivo, o fair play.

Mulheres na política

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Mulheres são maioria de votantes e precisam valorizar sua força (Foto: Shutterstock).

Mulheres representam 52% da população votante, conferindo a nós um imenso poder socioeconômico. Por isso, temos que identificar o que de melhor podemos oferecer: tanto pela nossa visão mais sensibilizada de relevantes aspectos sociais, quanto pela harmonização de pautas e tantos outros fatores valiosos.

Já conquistamos as cotas eleitorais, já garantimos nosso espaço na política e fundos específicos para campanhas femininas. Precisamos então saber ditar as próximas direções, com esse poder conquistado. 

Como nos organizarmos politicamente? Como usaremos os números a favor de pautas modernas e em prol social como educação, saúde e economia?

Como dizia Margareth Tatcher: “um líder é alguém que sabe o que quer alcançar e consegue comunicá-lo.”    

Para todos os fatos aqui trazidos temos primordialmente dois caminhos para trilhar: se optamos pelo lado valorizando a mulher forte, ou ainda, se daremos luz ao perigoso esconderijo do vitimismo, com apoio das bengalas legais e sociais. 

Além disso, a guerra dos sexos não é saudável, há poucos vencedores nessa divisão social. Na verdade, o equilíbrio vem da harmonia, da soma de valores e de competências.  Casais de valor, sociedades de valor, grupos de valor e políticas de valor são feitas por pessoas que buscam somar competências e habilidades, não de lutas e divisões que só empobrecem a discussão. 

Aqui vale a ponderação e equilíbrio das palavras de Golda Meir: “Se as mulheres são melhores que os homens eu não sei. O que sei é que elas não são piores”. 

Para finalizar, o mais importante além da união de forças do melhor do masculino e do feminino, está na discussão sadia de relevantes pautas como:

- O sombreamento e enfraquecimento dos direitos da mulheres em razão de pautas identitárias;

- A escala de denúncias vazias, caluniosas e desequilibradas, vulgarizando a relevante combate da violência contra a mulher;

- Os direitos políticos conquistados e a discussão do novo papel das mulheres nos partidos políticos.

Precisamos urgente e sadiamente iluminar os nossos próximos passos, com um debate saudável dos anseios sociais. Obviamente, e não menos relevante, é que tenhamos a liberdade incondicional de discutirmos estas pautas. 

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