Comportamento

Os impactos do uso das telas: da infância à adolescência

Uso excessivo de dispositivos digitais afeta o desenvolvimento cognitivo e social de crianças e jovens

Por
Carolina Casari

4/10/2025

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O uso excessivo de telas por jovens preocupa especialistas, que alertam para a importância do equilíbrio no desenvolvimento saudável (Foto: Seventyfour)

O uso de telas está cada vez mais presente no cotidiano de crianças e adolescentes. Celulares, tablets, computadores e televisores fazem parte do dia a dia, tanto para lazer quanto para estudo. No entanto, especialistas alertam para os impactos do uso excessivo desses dispositivos no desenvolvimento cognitivo, emocional e social dos jovens. Como encontrar um equilíbrio entre a tecnologia e um desenvolvimento saudável?

Perigos do uso de telas na primeira infância (0 a 6 anos)

A exposição a telas na primeira infância, especialmente entre 0 e 4 anos, pode trazer riscos significativos ao desenvolvimento infantil. Estudos indicam que o uso precoce e excessivo de dispositivos eletrônicos está associado a atrasos na linguagem, dificuldades na interação social e prejuízos na capacidade de atenção. Segundo uma revisão publicada na Revista Multidisciplinar em Saúde, “o uso demasiado de telas por crianças de 0 a 6 anos” pode levar a “prejuízos na capacidade de tolerância à frustração” e “dificuldades na fala” (Silva et al., 2023).

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Especialistas recomendam evitar telas antes dos 4 anos, priorizando atividades que estimulem a criatividade, interação social e desenvolvimento motor (Foto: Freepik)

Além disso, a exposição prolongada a telas nessa faixa etária está relacionada a distúrbios do sono e sedentarismo. A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que crianças menores de 2 anos não sejam expostas a telas e que, entre 2 e 5 anos, o tempo seja limitado a uma hora por dia, sempre com supervisão de um adulto (SBP, 2019). No entanto, especialistas sugerem que, sempre que possível, o ideal é evitar qualquer exposição a telas antes dos 4 anos, priorizando atividades que estimulem a criatividade, a interação social e o desenvolvimento motor.

Os efeitos das telas no cérebro e na aprendizagem

A exposição prolongada a telas pode comprometer funções cognitivas essenciais. Estudos apontam que o excesso de estímulos digitais reduz a capacidade de atenção e dificulta a retenção de informações. Segundo a Academia Americana de Pediatria, “o uso excessivo de telas está associado a dificuldades na regulação emocional e na aquisição de habilidades essenciais, como o pensamento crítico e a criatividade” (AAP, 2020).

Dificuldades de concentração na adolescência

Entre adolescentes, a dificuldade de concentração em sala de aula tem sido um desafio crescente. O uso frequente de telas, especialmente em redes sociais e jogos eletrônicos, modifica os padrões de atenção, tornando mais difícil manter o foco em tarefas prolongadas. Estudos apontam que a alternância constante entre aplicativos e conteúdos rápidos afeta negativamente a memória de trabalho e a capacidade de raciocínio lógico.

Pesquisas publicadas na JAMA Pediatrics indicam que o uso excessivo de telas pode estar relacionado a sintomas de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), mesmo em jovens sem diagnóstico prévio (Twenge & Campbell, 2018). Além disso, a necessidade de estímulos constantes torna o aprendizado tradicional menos atrativo, dificultando a compreensão de conteúdos mais complexos.

Professores relatam que os alunos apresentam maior impaciência e menor resistência a atividades que exigem esforço mental contínuo. A neurocientista Susan Greenfield destaca que “o bombardeio de informações digitais pode levar à superficialidade do pensamento e à dificuldade em estabelecer conexões mais profundas entre os conteúdos” (Greenfield, 2015).

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Estudos indicam que alternar entre aplicativos e conteúdos rápidos prejudica a memória e raciocínio dos jovens, afetando o aprendizado (Foto: iStock / Jairo Bouer)

Impactos na saúde física e emocional

Os efeitos do uso excessivo de telas também se refletem na saúde física. A luz azul emitida por dispositivos eletrônicos interfere na produção de melatonina, prejudicando o sono. O sedentarismo decorrente do tempo excessivo diante das telas pode levar ao aumento de peso, problemas posturais e fadiga ocular.

No aspecto emocional, as redes sociais e os jogos digitais podem influenciar diretamente a autoestima dos jovens. A comparação com padrões irreais exibidos na internet pode gerar insegurança, ansiedade e até depressão. A Organização Mundial da Saúde alerta que a exposição descontrolada às telas pode contribuir para o isolamento social e afetar o bem-estar emocional (OMS, 2019).

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Estudos indicam que crianças e adolescentes expostos por longos períodos a dispositivos eletrônicos desenvolvem dependência desses estímulos rápidos e constantes (Foto: PsicoEdu)

Os desafios da abstinência de telas na adaptação escolar

Com a limitação do uso de telas nas escolas, muitos alunos demonstram sintomas de abstinência digital. A transição de um ambiente digital ilimitado para uma rotina escolar estruturada tem causado ansiedade, irritabilidade e dificuldades de concentração.

Estudos indicam que crianças e adolescentes expostos por longos períodos a dispositivos eletrônicos desenvolvem dependência desses estímulos rápidos e constantes. Quando afastados das telas, podem apresentar inquietação, frustração intensa e resistência às atividades escolares tradicionais. Segundo um artigo publicado na Frontiers in Psychology, “a exposição prolongada a telas altera os circuitos cerebrais de recompensa, tornando mais difícil para as crianças se envolverem em atividades que exigem paciência e foco prolongado” (Christakis et al., 2021).

Esse cenário tem sido um desafio para educadores, que precisam lidar com alunos menos tolerantes a processos de aprendizagem que exigem esforço mental contínuo. Além disso, a falta de habilidades sociais presenciais tem impactado a adaptação dos adolescentes ao convívio escolar, dificultando a interação com colegas e professores.

Como encontrar o equilíbrio

Para minimizar os impactos negativos do uso das telas e facilitar a adaptação escolar, algumas estratégias podem ser adotadas:

  • Evitar o uso de telas antes dos 4 anos de idade, sempre que possível, priorizando brincadeiras interativas, leituras e atividades ao ar livre.
     
  • Definir limites de tempo para o uso de dispositivos digitais.
     
  • Incentivar atividades offline, como leitura, esportes e momentos ao ar livre.
     
  • Criar um ambiente de diálogo, ensinando crianças e adolescentes a utilizarem a tecnologia de forma consciente.
     
  • Priorizar interações presenciais, fortalecendo o convívio social e familiar.
     
  • Fazer uma transição gradual para reduzir o tempo de tela antes do início das aulas, preparando o adolescente para a nova rotina.

Cada família enfrenta desafios diferentes quando o assunto é o uso da tecnologia. Como você lida com essa questão no seu dia a dia? Tem alguma estratégia que funciona bem? Deixe seu comentário ou dúvida, e vamos juntos buscar um equilíbrio saudável para o uso das telas!

Referências

  • AAP – Academia Americana de Pediatria. "Media and Young Minds." Pediatrics, v. 138, n. 5, 2020.
     
  • Christakis, D. A., Ramirez, J. S., Ferguson, S. M. "How screen exposure affects children's cognitive development." Frontiers in Psychology, 2021.
     
  • Greenfield, Susan. Mind Change: How Digital Technologies Are Leaving Their Mark on Our Brains. Random House, 2015.
     
  • OMS – Organização Mundial da Saúde. "Guidelines on Physical Activity, Sedentary Behaviour and Sleep for Children Under 5 Years of Age." 2019.
     
  • SBP – Sociedade Brasileira de Pediatria. "Manual de Orientação: Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital." 2019.
     
  • Silva, M. L., Rodrigues, A. P., & Lima, F. R. "Impactos do uso excessivo de telas na infância." Revista Multidisciplinar em Saúde, 2023.
     
  • Twenge, J. M., Campbell, W. K. "Associations between screen time and lower psychological well-being among children and adolescents: Evidence from a population-based study." JAMA Pediatrics, 2018.
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